segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Meu Carro

       Outro dia revirando uns artigos antigos encontrei uma parte de um carro que ganhei quando ainda era criança. Foi uma das manhãs mais felizes da minha vida eu devia ter 8 ou 9 anos, minha tia e seu namorado me levariam à praia, mas por ironia do tempo caiu maior chuva e tivemos que ficar em casa,  semanas depois ganhei o carro como consolo.
        
           Ele era um carro grande o maior que já tive, cheio de luzes, adesivos de monstros colado na parte lateral, em cima do carro tinha um robô e acima dele duas antenas, ele era magnífico quando andava as luzes em cima, na lateral e na parte de baixo acendiam, meu coração de criança se enchia de alegria a mais pura que poderia existir.
         
            Mas da última vez que vi meu pobre carro já não era tão suntuoso assim, não tinha mais o mesmo glamour dos meus 8 ou 9 anos. 
       
              O que vi foi apenas uma parte do robô, sem visor que parecia proteger os olhos do boneco, não possuía mais aquele brilho que me deixava deslumbrado e as luzes o que de melhor existia em meu carro, já não existiam mais. 
            Fiquei sentado pensando em parte da minha infância, nas brincadeiras, nas brigas com meus irmãos, nas dificuldades daquele tempo, e na facilidade com que as coisas eram resolvidas, e como não era preciso muito esforço pra conseguir o que queria, pensando em como a vida pode ser difícil depois que nos tornamos adultos, toda fragilidade e inocência de criança dá lugar a problemas, tarefas, compromissos em fim a vida corrida que temos hoje.
        
            Lembrei de quando ganhei meu carro,  tudo era mágico nos primeiros dias, queria acordar o mais cedo possível para brincar antes de ir pra escola, quando já estava lá sentia vontade de voltar pois não parava de pensar no meu brinquedo novo.
                Mas os dias foram passando e me acostumei com todas aquelas luzes, com os adesivos, em resumo com o carro, já não brincava mais, embora soubesse que estava ali em meu quarto eu já não possui a mesma paixão.
          
             O tempo as vezes faz você se acostumar até com a coisa mais brilhante que você pode ter, o cotidiano trai seus pensamentos e gostos, a mesmice toma o lugar da surpresa, do tesão e até da dor. 
           Depois de um tempo as luzes da sua vida já não são tão brilhantes como antes, os adesivos onde estavam fixados todos os sentimentos bons vão empoeirando e desgastando a cola, então você percebe que o jeito é abandonar e esquecer seu brinquedinho de infância, o jeito é deixar aquela pessoa que você tanto ama pra não causar mais danos que já causou, não é culpa de ninguém quando o amor desgasta, quando a dor consome aos poucos, na verdade a culpa é do tempo, é ele quem diz até quando as coisas vão durar e até o quanto elas são importantes, fico impressionado de ver pessoas que conseguiram driblar o tempo pra no final dizerem "estivemos 60 anos juntos" nos amando todos os dias, com o cotidiano tudo se torna muito previsível e conforme o tempo toma de conta da vida a previsibilidade dói, machuca, maltrata.
        
            Sentado naquela tarde no chão do meu quarto olhando pro resto do meu carro descobri que ainda existia amor, mesmo que o amor fosse apenas um pedaço do robô que encontrei esquecido no chão.

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